Quem sou "eu"?
Um amontoado de idéias que ressoam conceitos, que ecoam dogmas. Sou
meus defeitos, minha personalidade, aquilo que nego e contrário, sou a minha
ilusão, a minha fantasia, a loucura e a sanidade, a fuga e o encontro, a
partida e a chegada, sou dualidade que não se acaba. Sou meu corpo, minha carne
e não há pecado nisso, e apesar disso também sou o pecado, sou o medo e a
ansiedade.
Fracionei-me em tantas partes que me esqueci de quem sou e me
identifiquei demais com conceitos e acabei por acreditar que havia me tornado
eles. Construí uma imagem e a adorei, lhe rendi culto. Minha personalidade se
tornou meu mundo, resultando numa prisão terrível e cruel que me tira toda a
sanidade. Costumo chamar a essa imagem de “eu”, sinto como se fosse uma
companhia que está sempre ao meu lado pronto pra dizer como devo ser, agir, pensar
e sentir. Me fala sobre o quanto eu amo determinadas coisas e o quanto eu odeio
tantas outras, influência meus desejos, suga minha energia e me induz a
julgamentos.
Encontrei o traidor e me descobri traído, por mim mesmo entregue,
açoitado prestes a morrer. Mas sempre que chego a esse ponto travo. É um
momento de decisão, preciso abandonar o “eu”, essa imagem que cultuo e que me
aprisiona. A incerteza do que vem depois, me revela que há algo a mais a ser
conhecido. O medo! Este é um instrumento do “eu”, usado para que possamos
titubear frente às decisões que a vida nos apresenta. E não falo do medo comum,
que se projetam em animais, insetos ou até mesmo ao instinto de sobrevivência. Falo
do medo que paralisa que provoca inércia. Fica-me uma questão, quando o “eu”, a
imagem criada e cultuada morre o que fica? O corpo em estado essênio? Apenas o
momento agora? Não há cobranças para reagir aos acontecimentos? Não há mais
dualidade, opostos? Apenas a pro atividade de estar presente no momento agora?
A inércia provém do medo e causa paralisia fazendo a manutenção do cárcere.
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